É corrente o uso da expressão “posto que” como sinônima de “visto que”. Assim:
(1) “Demorei a chegar, posto que o trânsito estava carregado.”
Além do erro de concordância (o verbo “estar” deveria ser flexionado no subjuntivo: “estivesse”), a frase acima apresenta um erro lógico. Ou, no mínimo, revela uma mentira bem contada.
Como conjunção, “posto que” transmite a ideia de dois fatos em contradição, embora a contrariedade não seja suficiente para impedir que ambos ocorram.
“Posto que” é, assim como “embora”, uma conjunção concessiva. “Concessão”, em uma de suas acepções, é uma “permissão”; “conceder” é a “ação de aceitar algo como válido”.
Substituindo na frase (1) a conjunção, o exemplo ficaria assim redigido:
(2) “Demorei a chegar, embora o trânsito estivesse carregado.”
Ora, com o trânsito carregado, o normal seria a demora. Por isso, a conjunção “embora” não faz sentido nesse contexto. Seu uso seria correto se a pessoa tivesse demorado a chegar, mesmo com trânsito fluente, ou se tivesse chegado mais cedo do que o previsto:
(3) “Cheguei rápido, embora o trânsito estivesse carregado.”
Ou seja, “chegar rápido” com “trânsito carregado” torna-se lógico se entre os dois termos há o “atalho” da conjunção concessiva.
Contudo, o uso corrente já admite o uso dessa conjunção com valor explicativo. Nesse sentido, a frase (1) equivaleria a esta:
(4) “Demorei a chegar porque o trânsito estava carregado.”
Note-se que, tratando-se de uma conjunção causal (isto é, que explica ou atribui uma causa a um fato), o verbo deve estar flexionado no indicativo.
Como se vê, embora a expressão “posto que” seja sinônima de “embora”, informalmente é utilizada como forma de prestar esclarecimentos, de apresentar uma justificativa.
Porém, o significado culto e formal da conjunção indica uma circunstância que existe, embora não seja suficiente para impedir que algo (o fato descrito na oração coordenada) aconteça ou deixe de acontecer.
Ou seja, o uso da conjunção concessiva demonstra que o trânsito não teria sido suficiente para impedir de chegar mais cedo. Com o uso da conjunção, os dois fatos ( “trânsito” e “chegar cedo”) são possíveis de acontecer mesmo na presença um do outro.
Portanto, se alguém “demora a chegar”, sob o pretexto do “trânsito carregado”, mas entre o fato e a desculpa usa uma conjunção concessiva, revela que, sim, poderia ter chegado mais cedo, mesmo que o trânsito estivesse carregado. E se não chegou tão cedo quanto poderia, algo ficou por explicar...