Por que se escreve “vou à Bahia”, mas se escreve “vou a São Paulo”?
Como se sabe, a crase é uma contração entre dois termos. Nos casos acima, trata-se de uma contração entre a preposição “a” e o artigo definido feminino “a”.
O artigo definido comunica, em regra, a noção de familiaridade com o termo que o sucede. Assim, “a advogada” ou “o médico” comunicam a ideia de que se trata de pessoas específicas, ao contrário de “uma advogada” ou “um médico”, que comunicam a ideia de serem quaisquer pessoas com as características de advogada ou médico — um tratamento menos pessoal, portanto.
Para saber quando a preposição “a” coincide com o artigo definido feminino, basta verificar como a frase se reorganiza se substituirmos a preposição “a” por outra preposição semelhante (“para”, “por”, “em” e “de”).
(1) “Vou à Bahia” — equivale a dizer: “vou para a Bahia”;
(2) “Vou à São Paulo” — equivale a dizer: “vou para a São Paulo”, o que não é adequado à norma culta.
Assim, caso a substituição da preposição “a” por alguma das preposições mencionadas exija o artigo definido feminino, então é necessário o uso da crase. Do contrário, não.
(3) “Voltei da Bahia e passei por São Paulo”;
(4) “Voltei de São Paulo e passei pela Bahia”.
Observe-se que, na frase 3, a preposição “de” contraiu-se com o artigo definido feminino “a”, transformando-se na forma “da”, o que não ocorreu na frase 4.
Já a preposição “por” contraiu-se com o artigo definido “a” na frase 4, transformando-se na forma “pela”, mas isso não ocorreu na frase 3.
Percebe-se, assim, que “Bahia” exige o artigo definido feminino e “São Paulo” não exige artigo nenhum. Portanto, antes de “Bahia” ocorre a contração entre a preposição “a” e o artigo definido feminino, transformando-se na forma “à”; mas isso não ocorre antes de “São Paulo”.
Se considerarmos a função do artigo, talvez isso explique o mito das diferentes personalidades paulista e baiana...