Livros jurídicos: conhecimento e mercado

Desde que eu comecei a trabalhar com textos jurídicos, já revisei, editei e ajudei a publicar muita coisa boa. Só para citar alguns dos livros que têm o meu dedo:


Os livros jurídicos sempre foram uma fatia importante do mercado editorial. Mas sabemos que a produção e o consumo de livros estão diminuindo assustadoramente no Brasil. Vejam estes números:

“Entre 2014 e 2018, a queda de exemplares vendidos foi de 65,8%! Em apenas quatro anos, o mercado editorial jurídico reduziu 2/3: de 14.285.422 exemplares, em 2014, para 4.887.361 exemplares, em 2018! Enquanto o mercado editorial jurídico reduziu 65,8% da quantidade de exemplares vendidos entre 2014 e 2018, o número de faculdades de Direito aumentou 18,14% e a quantidade de advogados ativos inscritos na OAB aumentou 31,73%! Esses são os números inacreditáveis do mercado editorial jurídico! Como um segmento cujo público relevante aumentou expressivamente — e sequer estou considerando a crescente quantidade de concurseiros em tempos de crise e de funcionários públicos — pode ter um decréscimo tão grande?” (Henderson Furst, Publishnews, 02/08/2019, citado com adaptações)

E sem dúvida nenhuma isso se reflete, num ciclo vicioso, na produção acadêmica e na produção do próprio Direito:

“Professores e orientadores de mestrado relatam que seus jovens pesquisadores não fazem leituras profundas, densas, em obras clássicas, mas se restringem àquilo que o Google arbitra de relevante a eles. Quanto aos advogados, o fenômeno da mudança de demanda não é muito diferente dessa que observamos nos universitários, vez que é consequência direta. Observa-se crescente oferta (e demanda) de conteúdos práticos e prontos, e isso é consumido pouco importando quem fez a referida peça ou se ela está atualizada com a complexidade normativa e jurisprudencial brasileira.” (Henderson Furst, Publishnews, 02/08/2019, citado com adaptações)

Sim: a realidade é terrível e as conclusões são assustadoras. Mas o que podemos fazer diante disso? Precisamos continuar insistindo! Muitas pesquisas excelentes continuam sendo feitas e precisam ser conhecidas pelo público leitor.

Talvez o formato das publicações possa ser diferente? Podemos publicar mais e-books, que, além de mais baratos (para leitores, autores e editoras), são mais simples de consultar, estudar e citar? As provas da OAB e dos concursos podem ter um formato diferente, que privilegie mais a reflexão? Os programas de graduação e pós-graduação podem trabalhar melhor a metodologia científica?

Não tenho respostas. Ninguém tem, ainda. Mas precisamos pensar nisso com urgência. Sem livros não existirá produção de conhecimento sólida. E um Direito que não tenha alicerce no conhecimento certamente perpetuará injustiças.